História Eu vou te amar como um idiota ama|| Sankey (2024)

Manjirou's Pov Off

Narrator's pov on

A aula já havia iniciado, puro falatório entediante e monótono que nem mesmo Sumire parece aguentar. Uns dormiam, outros mexiam em seus celulares, mas Sanzu, por sua vez, estava concentrado nas dobraduras de papel que faz junto com Mikey, que seguia e acompanhava as instruções do Akashi à risca. Haviam arrancado uma folha de seus cadernos para isso, torná-las um belo tsuru de origami seria o mesmo que um bom fim para essas folhas afinal, bem, seria melhor do que anotar algo que será puro desperdício.

Ao perceber que seu papel já havia se embolado, dando ao projeto de origami um fim, pela segunda vez, Manjiro soltou um gemido baixo em frustração, apoiando a testa na superfície branca de sua mesa. A cena, ao olhar de Haruchiyo, foi um tanto quanto engraçada e adorável, porém, talvez seja só sua obsessão pelo loiro ao seu lado.

— "Tenta de novo, uma hora você consegue, tenho certeza." — sussurrou Sanzu calmamente enquanto tocava o ombro do menor — "Vamos lá."

— "Eu não consigo, Sanzu." — murmurou arrastado e frustrado — "Origami não é pra mim."

— "Eu vou te forçar a aprender de qualquer jeito, mas ok." — suspirou e olhou para a fileira ao lado, sorrindo levemente — "Pelo menos o Rindou tem sorte no amor."

— "O Angry deve ter dado uns 4 foras nele." — Mikey comentou e então olhou para os dois ao lado, os vendo dividir o fone e assistindo algo no celular de Souya — "Rapaz...foi só o Smiley falar que não queria os dois perto que o Angry decidiu dar uma chance ao Rindou."

— "O proibido é mais legal." — brincou, tirando um riso baixo do outro — "Mas é sério." — riu e olhou para o Powerpoint de Sumire — "Isso aqui tá pior que prova de resistência do bbb..."

— "Eles precisam aprender com os professores." — o Sano adicionou, fazendo Haruchiyo e esforçar para conter uma risada alta. O loiro sorriu preguiçoso, se espreguiçou na cadeira, pegou sua lapiseira e começou a desenhar um círculo em seu caderno — "Tá...quais são os nossos ships desse ano?"

— "Decidiu fazer fanfic de ship?" — o outro provocou, esboçando um sorriso ladino em seus lábios — "Já não bastava ser alcoólatra, quer ser fanfiqueiro também."

— "A sua irmã me disse que você cria fanfic comigo...logo, você também tá na mesma. Além de fumante é usuário do wattpad, daqui a pouco vai ser o que? Vendedor de pulseira?"

— "Convenhamos, seria mais estranho se eu não criasse. E para o seu governo..."

— "Ata, virei presidente agora."

— "...Qual partido?"

— "Comunista."

Respondeu irônico.

— "...Oh, meu gatinho comunista, eu preciso te dizer..." — cantou em um sussurro, assistindo o loiro se esforçar para não deixar escapar dos lábios um riso sequer — "Que eu acho que o vermelho fica tão bem em você..."

— "Para, eu vou começar a rir igual hiena e vou levar suspensão por sua culpa!"

— "Espero que você abra uma exceção...quero a propriedade privada do seu coração." — completou, tirando risadas suas e do garoto ao seu lado — "Tá, quais os shipps?"

— "Hmm...tem o viado hom*ofóbico com o gay ainda não assumido." — supôs — "Tem também a Mary e a Senju...uma vibe bem Jenny né?"

— "Nah...acho que Jenny combina mais com o Baji e o abismo de amores que ele tem pelo Chifuyu e o Kazutora."

— "Verdade..." — pensou um pouco, desenhando o queixo do rosto de meio perfil que fazia em seu caderno — "Então com elas combina...I Wanna Be your Girlfriend."

— "Kissed a girl simplesmente não existe."

— "Muito óbvio...mas sempre tem All the things she said."

— "Não duvido que seja o maior kin delas." — comentou enquanto dobrava a cabeça do tsuru e então o deixava na ponta da mesa — "Vou fazer uma borboleta agora...tá...Rindou e Souya combinam com...Love Story da Taylor Swift."

— "E o Ran e o Smiley com I Hate everything about you."

— "Pensei que só eu shippasse."

— "É uma ódio tão absurdo que eu cheguei a conclusão que eles são casados só que ainda não sabem."

— "Que nada! Eles já são casados, por isso brigam tanto...ou estão em processo de divórcio."

— "O Ran come o Smiley, mas o Smiley é passivo agressivo."

— "Não, o Smiley é agressivo, tem nada de passivo não. Ele come o pau do Ran, e se o Ran se comportar, o Smiley pensa na possibilidade de dar."

— "Nada disso. O Ran come o Smiley, por isso eles brigam tanto, porque o Smiley tá com dor na perna. Isso é óbvio."

— "Não, eles brigam porque o Ran claramente tem problema com apostas e aí ele gasta o dinheiro que iria para a festa de casamento, mas o Smiley é bottom dominante."

— "Não, ele é um brat."

— "Nada disso. Ele manda na relação, o Ran só obedece."

— "Eu convivo mais com o Smiley pra saber que ele é um brat, nem vem."

— "E eu convivo mais com o Ran pra saber que ele é obediente a Bottom."

— "Estamos mesmo discutindo sobre o casal infeliz?"

— "Quer discutir sobre nós?"

— "Não existe nós." — brincou Mikey, rindo suavemente e voltando a anotar algumas coisas que considerou pertinentes.

Sabia que aquele comentário era somente brincadeira, uma piada que não tinha a intenção de machucar, contudo, aquelas palavras ditas por Mikey ressoaram na mente de Haruchiyo. Não existe nós. Ele sabe, sempre soube que isso era só diversão, no entanto, aqueles acontecimentos da última madrugada...deram a Sanzu uma veia de esperança de realmente ter se tornado algo para Manjiro...aqueles sorrisos carinhosos...o que foi aquilo então? Teria sido pura pena do Sano diante a si? Ele estava fingindo naquele momento? Esses questionamentos se repetiam em sua mente.

Desviou o olhar quase desorientado para seu caderno, mas não consegue se concentrar não importa o quanto tente. O corpo se tensiona, o diafragma trava, os pulmões cheios de ar parecem vazios, quase como se não houvesse litros de oxigênio ali. A boca começa a secar, sensação desconfortável e angustiante de certa forma. O rosado começa a tremer a perna esquerda para descontar a tensão, estrala seus dedos vez ou outra. O estômago está estranho. Embrulhado. A garganta dói pela angústia aprisionada em suas cordas vocais. Os olhos ardem. Aquelas lembranças tenebrosas dos dias de puro sofrimento em que sua mãe não era nada mais que uma jovem adulta que fez as escolhas erradas na vida, e seu pai. Por um momento, Haruchiyo pôde jurar que ouviu a voz de seu pai e mãe, duvidou que ainda estava na escola. Aquelas palavras...assim como seu pai lhe disse outrora, para Mikey, ele é um fardo? Quase consegue ouvir os sons das diversas garrafas que seu pai quebrava ao batê-las contra a parede em momentos de raiva, as vezes jogava em um dos filhos. Aqueles dias infernais...se antes se perguntava o que Mikey quis dizer com aquilo, agora se pergunta o que diabos seu genitor estava fazendo ali aquele dia.

De repente, parecia que o mundo inteiro se silenciou, como se estivesse só. Para Sanzu, a solidão não é uma palavra que tem sentido denotativo, literal, não, solidão é uma das poucas palavras que é totalmente conotativa, uma figura de linguagem. Quando o de mechas róseas está sozinho em algum lugar, sem mais ninguém, ele não sente essa sensação, esse silêncio ensurdecedor, esse vazio existencial. Não. Esse sentimento de se estar sozinho surge justamente quando se está acompanhado. A solidão é a sensação de ser invisível para o seu entorno, um universo que se constrói na própria mente, uma desconexão com a realidade em que se está. Mesmo que ouça a voz delicada e serena de Sumire, é como se o som estivesse silencioso...como se fossem ruídos incompreensíveis, mas que sua mente compreende de forma estranha, como se não absorvesse realmente o que é. É como se algo em sua mente falasse, contudo, ele não está pensando em nada. Os olhos parecem estar menos sensíveis às cores da vida, parecem acinzentadas.

Muitas outras vezes já esteve nessa situação, nessa sensação, mas na maioria das vezes, estava em seu quarto, o diferencial é apenas a sensação. Enquanto em seu quarto Haruchiyo está preso em seu vazio existencial, aqui ele está preso em seu vazio solitário. Nas noites ou manhãs em que sentiu-se assim, ao se olhar no espelho, viu apenas um reflexo, não uma vida, um ser com coração pulsando no peito, era só seu reflexo, nada mais, ausente de qualquer tipo de valor emocional.

Foi assim que seu vício em cigarros começou? Foi. Naquele terraço aleatório, sentado sobre a superfície de cimento do guarda-corpo. Olhava para a cidade. Desamparo em meio ao semblante calmo. Não negaria que cogitou a ideia de pular, porém, ao ver os cigarros esquecidos em seu bolso que outrora roubou de Takeomi para irrita-lo. Havia um cigarro. Por que não? Parecia tão atraente, tão melhor do que a vida. A fumaça aqueceu os pulmões. Tossiu um pouco, mas foi bom, seu subconsciente pôde ao menos perceber que havia algo enchendo seus pulmões. O cérebro incapaz de entender que só pode respirar oxigênio. Foi calmante. A nicotina agiu em seu sistema nervoso, ativando sua dopamina, seu prazer, a calmaria. Um a um. Primeiro era algumas vezes a cada dois ou mais meses, a cada mês, a cada duas ou três semanas, toda semana, todo dia, toda hora.

Primeiro cigarros, depois o álcool. Não era a mesma coisa. O cigarro não o fazia acordar daquele jeito de manhã. Primeiro cigarros, depois as drogas. No desespero, pegou mais comprimidos do que deveria para sua ansiedade. Foi melhor que os cigarros e obviamente superior ao álcool. Encontrou conforto naqueles pequenos comprimidos, depois em alguns diferentes, até encontrar aquela que fez a sua vida ter cores, em sentido literal. Tem nome e até sobrenome; Ecstasy. Pouco se importa com a pergunta de em que momento e lugar encontrou aquilo, quando começou, mas não importa, a sensação de euforia era o que ele buscava. Ela durava mais tempo, a percepção de cores e sons aumentava, o tato era mais aguçado. Essa droga romantizou sua vida como nunca foi romantizada. A extroversão, alerta e qualquer coisa. Oito horas maravilhosas, o gosto amargo certamente valia a pena.

Contudo, sempre há um porém: e se alguém descobrisse? A culpa sempre vinha no final das contas. O pensamento de Mikey o deixar por conta dessas pílulas espantava Haruchiyo, ou melhor, desespera. A culpa não foi suficiente para se livrar do vício, isso se intensificou. Remédios para ansiedade, psicoestimulantes, não importa o meio que usou para conseguir, o que importa é que conseguiu. Quem desconfiaria afinal? Quem além de médicos e farmacêuticos se importam com a tarja preta dos medicamentos? Não seria difícil de se explicar. Pequenas doses todos os dias e controladas, estudou química e biologia só para isso até encontrar uma nova obsessão. É interessante. Se errasse minimamente a dosagem de um dos componentes, quem sabe o que aconteceria? Se estudar de forma tão devota e detalhada para produzir as próprias drogas fosse o mesmo que assassinato, portanto Sanzu teria cometido chacina. Pequenas dosagens todos os dias só para controlar a ansiedade, não dá para ser considerado vício, ou dá? Não importa, não para Sanzu. Começou com pequenas doses de diferentes drogas, até chegar no ponto que definitivamente se tornou dependente da sua favorita, Ecstasy.

Olhando para os lados pelos cantos dos olhos, Sanzu coloca a mão dentro de seu moletom, pega o pequeno potinho de comprimidos, sendo cauteloso e atento a qualquer movimento de Mikey ou de alguém que pudesse o ver. Girou cautelosamente para a tampa abrir e pegou uma cápsula branca e verde. Discretamente, levou a pílula até seus lábios e a pegou com a língua. O sabor amargo e ao mesmo tempo agradável lentamente acalma seus nervos. A euforia logo se instala no seu corpo, se cola em suas entranhas. Mas não adianta. É pouco. Claro que é pouco, leva para os lugares como a escola apenas pequenas dosagens para que ninguém desconfie ou note os efeitos colaterais. Não adianta. A raiva e a frustração andam juntas em sua mente.

Tentou permanecer bem durante a aula toda até o fim do horário escolar. Foi uma tarefa difícil devido ao estresse, mas nada novo para si, já fingiu tantas outras vezes nessa mesma situação. Sucesso em todas elas, já adicione mais um para sua lista.

Como já haviam marcado há alguns dias atrás, haverá uma reunião da Toman mais tarde nesse mesmo dia. Enquanto vestia seu uniforme, Senju invadiu seu quarto com um sorriso animado.

— "Haru, hoje eu e a mãe vamos ao shopping ter uma noite das garotas!" — a mais nova comemorou — "Queria que viesse junto...mas você é macho. Enfim, quer que compremos algo?"

— "Não, valeu."

— "Vai ficar batendo perna com o Rindou e o Ran até mais tarde?" — perguntou e logo recebeu uma resposta negativa — "Tudo bem se eu não for hoje, né? A gente já tinha combinado e tudo mais, mas se precisar eu vou."

— "Senju, tá de boa, a gente já tinha combinado, até o Mikey já tá sabendo porque você é ansiosa e quer avisar pra todo mundo. Relaxa, tem gente mais que o suficiente para lembrar do que aconteceu."

— "Tirando o Baji que tem alzheimer seletivo...então tudo bem? Eu prometo que vou na próxima!"

— "Vai logo, Senju."

— "Parece que quer se livrar de mim."

— "Parece? Eu tô mesmo tentando." — ironizou e riu enquanto assistia a mais nova rir e logo sair com sua mãe.

A reunião ocorreu no local de sempre, não teve nada demais, a única coisa de valor realmente considerável foi ver Mikey com a parte de cima do uniforme, na visão de Sanzu, perde a pose de líder fodão para dar lugar a uma aparência mais adorável, talvez seja porque parece mais baixo com o uniforme todo. Não seria surpresa se Haruchiyo dissesse que só prestou atenção nas falas de Mikey e nada mais; talvez os pequenos cochichos que ouvia de Chifuyu, Kazutora e Baji, quase parecia uma discussão, mas que foi abafada rapidamente.

Ao fim da reunião, acabou esbarrando com a Mikey no caminho até onde deixou sua moto. Olhou para o loiro e sorriu, sorriso esse que foi desfazendo-se ao olhar para a direção que os olhos do loiro estavam fixos.

— "Fala sério...quem é a sem noção que sai à noite, até uma reunião de uma gangue só para ver o namorado?" — murmurou o Akashi. O desprezo transborda de seu olhar ao ver Draken e Emma conversando num canto.

— "...acho...que eu queria ser a sem noção." — admitiu Mikey com a voz entristecida e baixa.

— "Ainda dói?"

— "Acho...que quando estou sóbrio...dói um pouco mais...bate a consciência completa..."

Silêncio. Já sabia que não adiantava fazer nada. Mikey não permitiria que Sanzu o beijasse ali com alguns membros da gangue ali por perto. Em silêncio, caminhou até sua moto, deu uma última olhada no Sano e foi embora. Doeu ainda mais.

Em casa, no quarto, Sanzu bate a porta com força. Apoiou as mãos em sua escrivaninha, a raiva consome. O coração acelera e a respiração desregula. De repente, soltou um grito de puro ódio que foi abafado pelo som dos livros, cadernos, canetas e até algumas outras coisas que estavam na mesa, mas que foram jogadas no chão por Sanzu. Os joelhos tremeram e agora falham. Ainda segurando na borda da mesa, os olhos são encharcados pelas lágrimas que não paravam de rolar. O olhar arregalado é fechado com forças enquanto o Akashi puxa os fios róseos com força para descontar as emoções que deixaram escapar apenas um soluço alto e sôfrego que veio do fundo de sua garganta. Sua mente está uma bagunça bem assim.

Por que ele não pode ser como Draken? O que Mikey vê nele?! O que as pessoas enxergam nele?! O que Ryuguji tem que ele não tem?

Sanzu se esforçou tanto para ser um exemplo diante dos pais dos amigos e de sua própria mãe, aprendeu a arte do fingimento, quem são os atores de Hollywood perto das emoções que já fingiu só para conseguir o que queria?! Notas sempre perfeitas, a luta bem feita, sorriso carismático. Estudou a oratória, a técnica da chantagem, aprendeu a esconder os efeitos da bebida alcoólica, até estabeleceu limites para não deixar que descobrissem de seus vícios e até para controlá-los na frente de todos. A dependência estava presente somente em seu olhar, não nas ações ou seu pensar. Aprendeu a pintura do silêncio, da audição, e tornou-a um atributo. Sua voz sempre tão tranquila, assertiva e natural disfarçando a raiva até mesmo nos momentos de abstinência ou quando tudo o que queria fosse arrancar os olhos da pessoa com quem conversava e irritava. Se força a se controlar na bebida, no humor errático, nas drogas e no cigarro.

Se para ter o brilho do olhar de Manjirou para si precisasse arrancar seus olhos, sua voz ou ter parte do corpo carbonizado, ele faria. Preferiria se cortar até sangrar e não restar nada, uma visão defeituosa ou meio cega só para ter um pouco do que Ken recebe de Manjirou. Se fosse preciso mataria, talvez até se enforcaria, tudo o que já fez é quase a mesma coisa que essas duas opções de toda maneira.

O ódio que tanto guarda de seu próprio vice-comandante aumenta conforme o tempo passa. Em seu quarto, anda procurando por algum recipiente de pílulas que infelizmente guardou muito bem guardados. Jogava algumas coisas no chão sem se importar. A angústia, a raiva, a inveja corrompe seus sentidos e racionalidade. O cabelo desgrenhado, uma mecha no meio do rosto. No canto do quarto, perdeu as forças, se sentou apoiando-se na parede e abraçando os joelhos. Seus olhos arregalados focados no nada, lágrimas de raiva, inveja e angústia rolam sem pausa. As orbes azuladas transbordam e berram sua falta de sanidade. As mãos cobrindo a boca, abafando os ruídos que saem dos lábios. A perna tão inquieta, o corpo tremendo. A respiração irregular e a necessidade de algum dos seus vícios.

Um grunhido ressoa um pouco mais alto, os olhos fecham-se com força. A angústia atingiu seu auge agora há pouco. Uma pontada de dor esfaqueia seu coração e jogou querosene por cima antes de queimar. Dói tanto a consciência, o saber de que o carisma do Ryuguji facilmente supera sua atuação. Saber que não será o melhor e muito menos o número, o braço direito, nem sequer o melhor amigo de Mikey. Por que para Draken é sempre tão fácil ser maduro, interessante e bom amigo, e para si é quase um sacrifício? Por que ele não consegue sentir empatia por algumas pessoas que consideram-no como amigo? Não fica comovido se vê seu próprio irmão chorar. Quando sua mãe o abraça por que ele se sente tão deslocado? Sanzu a ama, diferente do que sente por Takeomi, mas é incapaz de se sentir como filho daquela mulher. Isso não importa, mas por que é tão horrível? Por que Ken consegue sempre o superar em qualquer luta? Talvez seja porque Sanzu há muito tempo não faz questão de ter uma boa alma?

Já faz tanto tempo que evita os espelhos, até mesmo mente para os amigos, é assombrando pelos seus medos e desesperos. Colocado como vice capitão da quinta divisão, ele conquistou um pouco respeito, orgulho pelos seus feitos. Estudou tanto para ser o número um só pela sua compulsão, sua obsessão, lutou tanto para aprender a lutar do melhor jeito.

Mas nada disso importa a partir do momento em que Ken tem tudo o que Haruchiyo mais quer.

Se ele possui a admiração de Mikey. Se o escutam quando ele fala nas reuniões. Se em um tempo menor ele conseguiu se tornar o melhor amigo de Mikey. Se ele não é ignorado. Se ele até mesmo crescendo no pior lugar possível é alguém de conduta admirável. Se nem mesmo Draken tem consciência ou se importa com o fato de Mikey o amar, ou melhor, se ele nem mesmo se importa se ele não precisa depender de alguém para se sentir amado.

— "Mikey..." — sussurrou com sua voz rouca, fraca, trêmula e sangrando sua angústia mais profunda — "...o que eu tenho que fazer...para você me amar...? Só um pouquinho...só um pouquinho..."

Repetia em sussurros quando em fim se acalmou minimamente enquanto abraçava os joelhos e apoiava a testa contra eles. Só um pouco de afeição já seria o suficiente para Haruchiyo. Só um pouco.

Se isso fosse algum tipo de experimento para saber se existem sentimentos mútuos entre um amor platônico, acabaria de ter sido comprovado que sim. Enquanto Haruchiyo sofre de forma angustiante por tudo que foi engatilhado pela dor de amor, Mikey está no mesmo mar. Sentado num beco qualquer, abraçado a uma garrafa de álcool, olhos inchados pelo choro. Na mente repete-se o mesmo filme da discussão que teve a pouco tempo com o próprio pai.

Naquele momento, na discussão, Manjiro encarava o chão, esforçando-se para não deixar transparecer uma emoção sequer ao mesmo tempo que ouvia as reclamações de Makoto, seu pai, que voltara há pouco de uma viagem de negócios.

— "Eu já falei mil vezes, Manjiro!" — bradou impaciente — "Eu falo pra você ser responsável pelo menos uma vez, cuidar da sua irmã e o que você faz?!"

— "Foi ela quem foi atrás!" — Izana gritou das escadas, recebendo uma repreensão de Wakasa, que havia passado lá para ver Shinichiro — "E ela também tá namorando com um marginal, culpa dela! Shinichiro, manda seu namorado parar de me bater!"

Emma observava em silêncio o pai encarar a escada com um tic no olho antes de bufar e massagear a têmpora, a loira imediatamente voltou a abaixar a cabeça e encarar o chão ao lado de Mikey, que sentia certa dor ao perceber que a irmã de fato tem medo demais para ao menos explicar a situação e tirar o nome do irmão daquela discussão.

— "Eu tolero essa sua palhaçada de ter a porra de uma gangue, Manjiro Sano, mas eu não vou aceitar que você influencie a Emma, você me entendeu?! Pela primeira vez na sua vida, você consegue entender algo que eu tô falando e obedecer?!"

— "Sim." — murmurou silenciosamente.

— "Por que eu sinto que eu tô falando com uma porta?" – comentou entre dentes — "Eu estou falando sério, Manjiro. Você tem que ser um bom exemplo, só uma vez!" — bufou. O loiro encarou o filho, que tinha os olhos fixos no chão. — "Mais que tudo eu odeio os seus olhos..." — sussurrou o pensamento em voz alta.

— "Hm?" — o mais novo levantou o olhar e encarou o pai confuso. — "O que...?"

— "Você é igual à sua mãe, Manjiro." — disse sem responder a pergunta — "Aliás, igual até demais. Já faz anos que ela está na merda daquele hospital psiquiátrico e não melhora nunca, já faz anos que eu tô pagando uma fábula para a desgraçada da sua terapeuta, pagando consulta cara no psiquiatra, e até hoje você não melhora! Eu tô pra te tirar da terapia. Sério que essa mulher acha normal que um adolescente crie gangues e fique brigando com um bando de delinquente?! Seu psiquiatra fala que é depressão, engraçado que nem a porra do remedio você toma direito! Você é irresponsável nesse nível, Manjiro! Nem a merda dos seus remédios você toma direito!, claro que tá aí todo desequilibrado, daqui a pouco você vai enlouquecer igual a sua mãe!"

— "Ela não é louca!" — o mais baixo gritou com os olhos marejados. Como odeia essa palavra...loucura...nem percebeu ter levantado a voz.

— "Olha o jeito como você fala comigo. Eu sou seu pai, você me deve respeito, ainda mais quando mora debaixo do teto que eu pago, ingrato!"

— "Sou ingrato por você me dar o mínimo agora?! E quem paga a maior parte é o vovô, para de ser hipócrita!"

— "Hipócrita?! Não sou eu o adolescente de dezesseis anos que fica tendo crise depressiva, mas nem sequer tem o mínimo de autocuidado pra tomar o remédio! Isso é responsabilidade sua, Manjiro, sua! Quando eu digo que é igual a sua mãe, é porque daqui a pouco você estará internado num Sanatório igual a sua mãe!"

— "Ela foi internada por sua culpa, eu sei, todo mundo sabe!" — mesmo que estivesse prestes a derramar o choro, se esforçou para sua voz não falhar.

— "Vai me culpar agora?! A Sakurako enlouqueceu por conta própria!"

— "Vocês brigavam todo dia! Eu ouvia os gritos, via ela chorando pelos cantos! Você até traiu ela!"

— "Posso até ter traído, nisso eu fui errado e me arrependo, mas sabe de uma coisa, Manjiro?! Todas aquelas discussões só aconteceram por sua causa!"

— "Minha causa?! Vai me culpar pelos erros que você cometeu?! Essa família tá quebrada por sua culpa! Eu queria não ser seu filho! Não ser seu filho!" — Ele repetiu. O silêncio instalou-se ali, ouvindo-se apenas o ofegar de Mikey que tinha o rosto manchado pelas poucas lágrimas que caíram. Makoto encarava o filho com o olhar surpreso pela explosão, choque caberia melhor. — "Você...você nem sequer me ama como filho, eu sei, mas não dá nem pra fingir?! Eu sei que você prefere a Emma em tudo e qualquer coisa, mas, só uma vez, dá pra não colocar a culpa em mim?! Dá pra pelo menos fingir se importar?! Eu tô a vida inteira esperando por um pingo de afeto e afeição vindos de você, e nada!"

Emma encarou o irmão em completo choque. Era assim que ele se sentia o tempo todo? Era por isso que ele estava agindo assim? Sentiu-se culpada ao se lembrar de todas as vezes que desvalorizou os sentimentos do próprio irmão. Por que nunca pensou em como ele se sentia?

— "Eu...não te amo?" — sussurrou o mais velho após um tempo em silêncio — "Eu, Manjiro? Você é meu filho, claro que eu te amo!, mas você só me obriga a discutir com você!"

— "Porque você só me culpa! Veja só! A culpa não é minha que a Emma é uma duas caras!"

— "Não fala assim da sua irmã, não tem nada ver!"

— "Nada?! Pro seu governo, pai do ano, a sua filhinha, miss perfeitinha do século, que só tira notas altas, um exemplo de pureza, já tentou transar com um moleque que ela nem conhecia só para o cara que ela gosta olhasse pra cara dela!"

— "Mikey!"

— "E ela quem foi atrás do Draken! Ela tá namorando com delinquente por conta própria, eu não tenho nada a ver com esse casal que veio diretamente do circo dos horrores! A Emma quem foi atrás do namoradinho na reunião! Eu não tenho merda nenhuma a ver com isso! Você poderia ter só perguntado! Mães não! Prefere ficar aí culpando a minha mãe pela internação que você causou!"

— "Eu causei?! Sua mãe deveria ter sido internada no dia em que você nasceu! Se eu não tivesse visto, você estaria morto! Para o seu governo, sua mãe já tentou te matar quando você tinha três anos!"

Provavelmente ninguém quer saber, mas queria deixar esclarecido q os capítulos mais felizes dessa fic são escritos quando eu estou tendo uma puta crise, já os capítulos tristes eu escrevo quando estou feliz. Nn sei dizer se eu sou muito triste ou muito feliz 🤡

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Author: Dr. Pierre Goyette

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